A implosão da ISA: As boas tradições do CIT podem ser salvas?

Andreas Payiatsos
Tradução: Marcio Musse

Alternativa Socialista Internacional (ISA) é uma organização trotskista internacional que foi criada em 2019, após uma cisão do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT/CWI). A divisão ocorreu depois que o Secretariado Internacional (SI) do CIT (um pequeno comitê com aproximadamente uma dúzia de integrantes, com sede em Londres e que lida com o funcionamento cotidiano da organização) perdeu a maioria na condução do Comitê Executivo Internacional (CEI), maior e hierarquicamente superior a este, e que é composto por cerca de 80 membros. O CEI representava, aproximadamente, todas as seções nacionais do CIT, então presente em cerca de 45 países. O SI era um órgão eleito pela CEI, que era (de acordo com os Estatutos do CIT) o órgão máximo (no período entre os congressos) da organização internacional, elegendo e (supostamente fiscalizando) o SI. Pela primeira vez na sua história, quando o CEI tentou fiscalizar seriamente o SI, com uma maioria votando contra algumas das suas propostas, o SI (liderando uma fração internacional minoritária) foi adiante e dividiu o CIT.

A questão em debate parecia ser secundária (o hackeamento de alguns e-mails do grupo de direção na Irlanda). Na reunião do CEI de 2018, que iniciou nos últimos dias de outubro e terminou na primeira semana de novembro, o SI perdeu inicialmente a votação sobre uma questão técnica/procedimental (relacionada com a pauta da reunião). Em poucos dias, descobriu enormes “diferenças fundamentais” e “diferenças em questões de princípio” e avançou com a criação de uma fração minoritária antes mesmo do final da reunião do CEI. Ninguém no CEI contestou a composição do SI, nem sequer levantou a necessidade de remover ou substituir qualquer um dos seus membros. Mesmo assim, seguiram adiante com a criação de uma fração oficial que claramente abriu o caminho para a divisão iminente.

Logo após a reunião da IEC, no início de 2019, a Minoria enfrentou uma grave divisão interna – perdeu as seções de Espanha, Portugal, México e Venezuela, que seguiram o seu próprio caminho fora das fileiras do CIT.

Dessa forma, a Minoria tornou-se uma minoria ainda menor dentro dos organismos dirigentes do CIT. Apesar disso, continuou usurpando o nome do CIT e todos os seus recursos. Foi um movimento contundente e antidemocrático, atropelando os Estatutos do CIT e todas as declarações sobre democracia interna. Os recursos do CIT não pertenciam à Minoria; essencialmente, portanto, eles foram roubados. Foi um golpe interno.

Após a divisão, a maioria das seções do CIT criou a ISA, mas logo surgiram diferenças.

Desde a sua criação, a ISA tem estado essencialmente em crise. Em 2021, perdeu as secções grega, turca e cipriota, que em pouco tempo seriam seguidas por outras para criar o Internationalist Standpoint (ISp). As diferenças e os debates na ISA após a ruptura de 2021 nunca pararam, embora durante algum tempo a direção tenha tentado mantê-los debaixo do tapete, fora do conhecimento da militância. Tudo isso veio à tona com força nos últimos dois anos.

As diferenças hoje na ISA estão colocadas sobre todas os temas:

• sobre Política de Identidade e “feminismo socialista”;

• numa abordagem correta/equilibrada às questões de segurança;

• sobre a guerra na Ucrânia;

• sobre a Palestina e a guerra em Gaza;

• sobre Frente Única (ou seja, a necessidade de colaborar com outras organizações de esquerda e correntes da classe trabalhadora);

• nas perspectivas, em relação à crise do capitalismo, às lutas da classe trabalhadora e à consciência de classe;

• sobre o centralismo democrático (ou seja, essencialmente sobre o quão democrático é o regime interno e até que ponto a direção e a linha política estão sob conhecimento e controle dos membros) etc.

É claro que é impossível escrever sobre a substância das diferenças no contexto deste artigo. Uma ideia geral inicial é fornecida pela resolução da Conferência do ISp de fevereiro de 2023 sobre as divisões no CIT e no ISA. Desde então, as diferenças dentro da ISA aumentaram e se agravaram.

Hoje há dois polos em confronto frontal na ISA, em plena preparação para uma divisão final: um em torno das seções belga e irlandesa e outro baseado nas seções norte-americana e sueca. A segunda tem o apoio da maioria nos órgãos dirigentes internacionais, mas é uma maioria frágil. Em muitos aspectos, a divisão já é um fato, uma vez que os dois lados utilizam websites diferentes para distribuir o seu material, organizameventos diferentes e alguns indivíduos e grupos importantes e conhecidos já saíram; a divisão está se desenvolvendo de forma gradual.

Na seção dos EUA, a figura pública mais importante, com um acompanhamento muito significativo em torno da campanha Workers Strike Back (WSB), a ex-vereadora de Seattle, Kshama Sawant, deixou a secção dos EUA da ISA juntamente com uma série de outros quadros dirigentes, embarcando num caminho independente. O conflito não é apenas entre seções mas também dentro de secções e nem todas as divisões têm a ver ou estão relacionadas com a maioria internacional e frações minoritárias. É também importante ressaltar que as duas frações principais não são homogéneas, existem sérias contradições internas dentro de ambas.

A ISA enfrenta uma crise devastadora. O que restará dele no final desta batalha interna não está ainda claro.

Um desenvolvimento trágico

Este é um desenvolvimento trágico para uma organização que esperava e afirmava superar as deficiências do CIT, de onde se originou.

Mas também é trágico do ponto de vista do movimento revolucionário e trotskista em geral. Estas forças se encontram hoje seriamente enfraquecidas em comparação com o que já foram no passado. Confrontados com uma das piores, múltiplas e multiníveis crises do capitalismo, da qual o sistema não tem escapatória fácil, as forças que falam em nome do marxismo/trotskismo/socialismo revolucionário, vão de divisão em divisão e apresentam um quadro de grave fragilidade e fragmentação. Este é um fenómeno internacional que afeta essencialmente todas as organizações da esquerda anticapitalista e não se restringe à corrente do CIT.

O processo de repetidas cisões e fragmentação provoca naturalmente um sentimento generalizado de desmoralização não só nas camadas mais avançadas e nos ativistas, mas também na classe trabalhadora, nas camadas oprimidas e nos movimentos sociais em geral.

A fraqueza geral da esquerda socialista, especialmente depois das capitulações dos partidos da “Nova Esquerda”, como o Syriza (Grécia), o Podemos (Espanha), mais recentemente o PSOL (Brasil) etc., encoraja inevitavelmente a inimigos da classe trabalhadora e dos movimentos de massas. Empurra camadas desmoralizadas da classe média, mas também setores da classe trabalhadora, para a Extrema Direita, que está em ascensão a nível internacional; e, dentro da Esquerda (no sentido mais amplo do termo), proporciona um terreno mais favorável às correntes pequeno-burguesas, especialmente às Políticas Identitárias, para minar as correntes socialistas revolucionárias e orientadas para a classe trabalhadora.

CIT/CWI

Nem todos encaram o tema com uma abordagem como a apresentada acima. A direção do CIT, por exemplo, parece estar comemorando a crise da ISA. Num artigo publicado em seu website em 9 de maio, o CIT escreveu:

“O ISA emergiu da formação de um bloco sem princípios no CIT em 2018, que resultou numa divisão, à medida que procuravam, em vão, atalhos e se afastavam da classe trabalhadora organizada. O CIT, na altura, previu que tal bloco político sem princípios iria inevitavelmente romper-se e fragmentar-se. Nossos alertas foram totalmente confirmados…

“…Chamamos aos membros da ISA que lutam por uma abordagem genuinamente marxista… que leiam os documentos do Comité por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT) emitidos durante a luta de frações (2018-2019)… Acreditamos que as nossas análises e críticas são confirmadas pela trajetória política subsequente da ISA….

“…Convidamos os membros e antigos membros da ISA que procuram um caminho a seguir para construir uma internacional socialista revolucionária enraizada na classe trabalhadora para aprenderem as lições desastre que se desenrola na ISA. Gostaríamos de convidá-los a ler e reler nosso material novamente à luz desta experiência.”

Quando o atual CIT publica declarações como as acima, isso revela que o problema é muito profundo.

Em primeiro lugar, tais declarações distorcem a verdade do que aconteceu em 2018 e 2019. A divisão não foi causada por “um emblocamento sem princípios” que… caiu do céu. Foi causado pela metodologia difusa e antidemocrática do SI do CIT que, por causa disso, perdeu o apoio da maioria da Internacional. A minoria do SI, mais uma vez, não conseguiu prever a divisão dentro das suas próprias fileiras com a saída de Espanha, Portugal, México e Venezuela. Portanto, chega a ser até bizarro e certamente arrogante escrever que os seus alertas são “totalmente confirmados”.

Além disso, uma “pergunta” óbvia decorrente da declaração do CIT é a seguinte: quem recrutou, trabalhou em conjunto, treinou, educou etc, etc, durante décadas, todas essas forças que a liderança do CIT expulsou e hoje descreve como um “bloco sem princípios” que estava “procurando atalhos”, que “se afastou da classe trabalhadora” e que abandonou o Marxismo?

Dito de outra forma, se a maioria das secções de uma organização internacional se desenvolveu da forma que a direção do CIT está descrevendo, então quais são as causas profundas para isso e como é possível que a direção internacional não tenha quaisquer responsabilidades? Como é que a direção internacional nunca foi capaz de prever este desenvolvimento, como não pôde ver a explosão que se aproximava contra ela por parte da maioria das seções?

Uma organização internacional deveria ser mais séria. A posição do atual CIT é que eles estavam absolutamente certos, que estão absolutamente certos e que sempre estiveram absolutamente certos; que não cometeram erros, portanto não há nada que se tenha de corrigir. Os seus oponentes internos romperam simplesmente porque abandonaram o marxismo, eles deixaram de ser revolucionários – fim de papo.

Na verdade, a atual direção do CIT não consegue compreender que a crise da ISA hoje é essencialmente uma continuação da crise do CIT como corrente histórica, que começou em 2018 (algo que também se manifestou em cisões passadas, que não temos como desenvolver aqui).

Assim, o atual CIT, bem como a direção da ISA, não foram capazes de tirar quaisquer lições sobre o verdadeiro carácter da crise do CIT desde 2018 – na verdade, nem sequer tentaram fazê-lo. Algumas das forças que emergem do histórico CIT irão, naturalmente, desempenhar um papel importante no futuro, na construção de forças revolucionárias a nível global. Mas o atual CIT e a atual ISA, na forma que têm hoje, infelizmente não podem fazer isso.

As raízes da crise da ISA

A ISA está, essencialmente, em crise, desde a sua origem em 2019 e a sua criação formal em 2020.

As raízes da atual crise da ISA têm muito em comum com as raízes da sua última grande crise, em 2021, que levou à criação do Internationalist Standpoint (ISp), bem como com a crise original do CIT de 2018. Estas são: uma incapacidade de abordar corretamente e de forma equilibrada os desafios políticos da época atual combinada com uma arrogância escandalosa por parte da direção que pensam que serem os únicos com análise correta e método marxista no planeta (algo que no nosso material anterior descrevemos como “messianismo”).

Diferenças políticas são inevitáveis na época atual (como são em todas as épocas, de maneiras diferentes) devido ao recuo generalizado da classe trabalhadora e da sua consciência ao longo das últimas décadas. Apesar da profunda crise do capitalismo, a classe trabalhadora e as suas organizações mostram uma grave incapacidade (no geral – há, claro, exceções muito importantes) de progredir, de proporcionar uma resistência em massa aos ataques neoliberais com sucesso e de desafiar o sistema. Tais condições criam inevitavelmente diferenças, debates e fricções. Tais diferenças são de importância secundária e deveriam ser capazes de coexistir na mesma organização, num processo de discussão camarada; com tempo para esclarecer, sempre que possível, as questões contestadas.

Entra aí a questão do “regime interno”. Treinadas pelos fundadores e pela direção do CIT no passado, as gerações mais novas, tanto no atual CIT quanto na ISA, em sua maioria (exceções importantes existiram e existem) mostram uma grande incapacidade de acomodar diferenças; eles tendem a considerar qualquer desvio da sua abordagem e posições políticas como equivalente ao abandono do marxismo. Eles se recusam até a permitir que as opiniões minoritárias sejam expressas livremente: de acordo com o entendimento da maioria da direção do CIT e da ISA, uma minoria só pode levantar diferenças para serem discutidas se a maioria concordar que isso aconteça.

Estas práticas, no entanto, são exatamente o oposto da experiência do partido Bolchevique e da Internacional Comunista nos seus primeiros anos de existência, antes da ascensão do Estalinismo na União Soviética (após a morte de Lenin em 1924). Naquela época, os debates eram contínuos e, na maioria dos casos, públicos – não apenas entre camaradas individuais com opiniões diferentes dentro da mesma seção, mas também entre diferentes seções.

Lições a serem tiradas

O CIT histórico tinha uma série de deficiências “mortais” que levaram à grave crise de 2018. Mas também tinha uma série de características positivas muito fortes que permanecem vitais para a construção das forças da revolução socialista, hoje e para o futuro. .

Essas características vitais e importantes foram, dentre outras:

• a sua orientação persistente para a classe trabalhadora;

• a profunda compreensão da consciência da classe trabalhadora;

• a extrapolação cuidadosa das exigências e tarefas para o movimento de massas (o programa de transição);

• flexibilidade nas táticas, mas intransigência em relação à estratégia e aos princípios revolucionários;

• uma compreensão correta, equilibrada e flexível da tática da Frente Única;

• nenhum elemento de sectarismo na sua abordagem às organizações de massas da classe trabalhadora e aos movimentos de massas.

Com base nessas qualidades, o CIT foi capaz de dirigir lutas de massas que, em alguns casos, fizeram história, como foi, por exemplo, a luta do conselho municipal de Liverpool contra Thatcher e a campanha Poll Tax que derrubou Thatcher na década de 1980. Lutas muito importantes foram lideradas pelo CIT também na Irlanda, nos EUA e em outros países, nas décadas de 1990 e 2000. Estes processos levaram a crescimentos importantes no número de membros e a sucessos eleitorais em eleições parlamentares e locais/regionais. Com base nestas características e sucessos, o CIT conseguiu tornar-se na organização internacional revolucionária mais significativa no final da década de 2010, antes de sua crise de 2018.

A única maneira de abordar seriamente a crise no CIT seria estudar meticulosamente todo o curso histórico do CIT, de modo a compreender o que correu de forma negativa, olhar para os acontecimentos e os métodos empregados pelo CIT, não superficialmente, mas criticamente, de forma que se mantenham os melhores elementos da tradição do CIT e se descartem os piores.

Isto, infelizmente, não está acontecendo nem com o atual CIT nem com as direções da ISA. Em comparação com o passado, quando o CIT liderou grandes lutas, hoje, tanto o CIT como a ISA são sombras do que já foram antes. Mas ainda se recusam a passar por um processo de reexame do seu método – continuam a tradição de lutar ferozmente contra quaisquer diferenças políticas internas, rotulando-as como afastamento do marxismo e dos princípios revolucionários. Isto, mais uma vez, não é apenas uma característica do CIT e da ISA, mas de muitas organizações da esquerda anticapitalista – e este é um fator importante na sua marginalização.

A posição padrão dos diferentes lados em conflito nos debates do CIT e do ISA (e em outros grupos anticapitalistas) foi e ainda é “melhor sem eles”. Isto foi reiterado pela liderança do CIT em 2018-9, mas foi também sublinhado por alguns dos que criaram a ISA (particularmente a direção irlandesa) nos eventos que se seguiram. Este triste quadro é visto também na atual luta fracional da ISA: “melhor sem os outros”. Isto, porém, é uma miragem. É a abordagem sectária clássica de pessoas que acabam por se dividir e voltar a dividir, contribuindo para a imagem atual de uma esquerda anticapitalista marginalizada e multi-fraturada.

Existe alguma maneira de salvar as melhores tradições do CIT?

O que é característico da tradição do CIT e dos principais protagonistas dos debates internos na ISA hoje, no entanto, não é característico dos membros e de alguns dos agrupamentos que surgiram no decurso da atual luta de facções.

Há muitas pessoas que são críticas, ou pelo menos têm sérios questionamentos, de ambos os lados, na atual luta de facções na ISA. Existem camaradas individuais, grupos, tendências ou mesmo seções na ISA que se recusam a identificar-se com qualquer uma das duas frações principais, e que podem votar de uma forma ou de outra dependendo da questão. Alguns desses já deixaram a organização, como já mencionado.

Tais forças, que não estão dispostas a identificar-se com a atual configuração de maioria-minoria, seja fora ou ainda dentro da ISA, poderiam iniciar uma intercambio. Eles poderiam começar a trocar opiniões e materiais, reunir-se online e até, numa fase posterior, presencialmente. O seu principal objetivo seria tirar as lições do colapso do CIT como uma corrente histórica e da atual crise da ISA e começar a discutir sobre qual caminho seguir.

Esta é a única maneira, através de uma discussão camarada, paciente e profunda, de garantir que as melhores tradições do CIT histórico não sejam perdidas. Esta é a forma de garantir que tais camaradas e grupos serão capazes de desempenhar um papel importante no futuro, na construção de partidos revolucionários socialistas de massas e de uma organização internacional.

Haverá também camaradas dentro do CIT que observarão a crise na ISA não com arrogância desdenhosa, mas com uma mente aberta e questionadora. Alguns sempre se sentiram desconfortáveis com as táticas adotadas pelo SI em 2018-2019. Outros terão dúvidas sobre as perspectivas do CIT e a sua falta de crescimento e de dinamismo futuro. A ideia de que o CIT está “certo” e todos os outros estão “errados” não será aceita por todos os membros das seções do CIT.

Uma das coisas que está muito clara para o ISp é que se quisermos construir uma Internacional revolucionária de tamanho considerável no futuro, a concepção burocrática de cima para baixo do que é chamado “centralismo democrático” deve ser abandonada de uma vez por todas. A discussão deve ser livre e contínua e a tonalidade do debate deve ser tranquila e camarada. Em caso de diferenças, a opção deve estar aberta à opinião minoritária de se expressar em público. Isto foi praticado pelos Bolcheviques e pela Internacional Comunista há um século e é absolutamente ofensivo negá-lo hoje.

Perspectivas equilibradas são um fator absolutamente crucial. Uma organização não pode avançar sem uma correta compreensão do potencial e das oportunidades presentes em cada conjuntura histórica, bem como das complicações e dificuldades; e relacionado a estes, uma compreensão das mudanças no que diz respeito à situação objetiva e à consciência na classe trabalhadora e nos movimentos sociais. Só para dar um exemplo, na nossa opinião, a liderança do CIT na década de 2010 era conservadora no que diz respeito à abordagem a novos movimentos como o ambientalista e feminista. Por outro lado, tinham razão em criticar a direção da secção irlandesa por ter entrado num caminho que os levaria a submergir parcialmente a seção na política identitária pequeno-burguesa. Se uma discussão camarada e de mente aberta pudesse ter ocorrido, o equilíbrio certo poderia ter sido alcançado e lições positivas poderiam ter sido tiradas para todos os envolvidos no debate. Pelo menos, as perdas teriam sido minimizadas. Ao invés disso, a minoria avançou com um golpe na Internacional.

Existe uma ligação clara entre a perspectiva corretas, ideias políticas, táticas, slogans, etc. e o regime interno. Ideias corretas e equilibradas só podem ser alcançadas através da discussão interna e do debate numa atmosfera democrática, tanto a nível nacional como internacional.

Já foi mencionado que tais conclusões não se referem apenas às forças que vieram de uma tradição do CIT. Elas se relacionam com todo o espaço trotskista, de uma forma geral

Desde a nossa saída da ISA, o ISp entrou em contacto com inúmeras organizações, grupos ou correntes que procuram respostas em um sentido semelhante. Há muito espaço para estudo, para discussão, para iniciativas e atividades comuns e, em vários casos, onde há acordo suficiente, para unidade. As direções da ISA e do CIT acusam o ISp de não construir uma organização revolucionária, mas uma “rede frouxa”. Nada pode estar mais longe da verdade. O objetivo é sempre e claramente uma organização internacional baseada no centralismo democrático. Ao mesmo tempo, porém, esta organização revolucionária tem o dever de trabalhar em estreita colaboração com outros grupos com os quais não existe acordo suficiente para permitir uma organização unificada – em tais casos é correto estabelecer “redes” de colaboração e intercâmbios amigáveis.

Tal abordagem, como descrita acima, no que diz respeito a perspectivas equilibradas, um regime interno saudável e relações com outras organizações e correntes revolucionárias pode gradualmente, na nossa opinião, estabelecer as bases para uma internacional revolucionária socialista de massas no futuro.

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